Obra da escritora, escolhida como Patrona Perpétua das Letras Brasileiras em Nova York pela Brazilian Endowment for the Arts, será publicada pela editora Entrelinhas
A contribuição da romancista Tereza Albues para a literatura brasileira poderá surpreender leitores e críticos. Escolhida como Patrona Perpétua das Letras Brasileiras em Nova York em 2013 e Mestre da Cultura em Mato Grosso neste ano, seu legado será resgatado com o lançamento de mais um livro, a versão impressa de A Dança do Jaguar, publicado pela editora Entrelinhas, de Cuiabá (MT). A obra foi lançada apenas em formato digital no Salão do Livro de Paris, no ano 2000.
Gerald Thomas, diretor de teatro e ópera, disse que “Tereza é uma escritora fenomenal”, “é um terremoto literário”. Ênio Silveira, importante editor brasileiro que publicou os seus primeiros livros, registrou que Tereza “tanto pode ser vista como escritora quanto uma força da natureza”, por sua prosa de ficção ser tão rica e surpreendente.
Natural de Várzea Grande (MT), Tereza Albues graduou-se em Direito, Letras e Jornalismo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Viveu por 25 anos em São Francisco e Nova York, nos Estados Unidos, onde escreveu toda sua obra. Seus primeiros romances são ambientados nas planícies pantaneiras, no centro da América do Sul, onde nasceu.
Os livros Pedra Canga, Chapada da Palma Roxa, A Travessia dos Sempre Vivos e O Berro do Cordeiro em Nova York ganharam edição especial em box, cada um dos livros com a capa assinada por um artista plástico de Mato Grosso, como era o seu desejo. Com a sua morte, em 2005, Tereza deixou como legado obra importante para a literatura brasileira com vários livros ainda inéditos, que serão publicados pela Entrelinhas Editora, autorizada pelos seus herdeiros, que vivem em Nova York.
Em A Dança do Jaguar, o leitor acompanha uma trama de mistério, suspense e sensualidade ambientada em São Francisco, na Califórnia. A jovem pintora Nayla Malloney aluga um espaço no Solar Maltesa, casa vitoriana de três andares que aos poucos tem sua história sombria e sinistra revelada. Dividindo o lugar com o excêntrico e recluso botânico Tristan O’Hara, Nayla embarca em uma jornada repleta de aparições, sonhos e pressentimentos.
Além do lançamento do livro em formato impresso, o filme-ensaio “Albuesa” também homenageará o legado da romancista. A produção, dirigida por Glória Albues, irmã da escritora e pioneira do audiovisual no Mato Grosso, aborda diferentes aspectos da vida e obra da autora.
“Não se trata propriamente de uma cinebiografia mas de um ensaio que incorpora uma linguagem poética para adentrar o universo existencial e literário de Tereza Albues. Ao longo do filme, duas realidades distintas – Mato Grosso e a cosmopolita Nova York, onde a autora viveu por 25 anos e onde veio a falecer – se confrontam e convivem simultaneamente, quase que numa dimensão paralela, num discurso inacabado, misterioso e evocativo como a própria existência e que permite revelar momentos de incisiva reflexão em meio à violência, à injustiça, ao preconceito e as humilhações que pontuaram a vida da protagonista”, garante Glória Albues.
O filme, que estreia em maio, integra com o livro o projeto “Conexão Tereza Albues”, proposto pela editora da Entrelinhas, Maria Teresa Carrión Carracedo, e financiado pelo edital da Lei Aldir Blanc, Mestres da Cultura, apresentado pela Secretaria de Estado da Cultura, Esporte e Lazer do Estado de Mato Grosso.
Endossos
“Sem teorizações rebuscadamente intelectuais, Tereza Albues nos põe em contato com um mundo em permanente mudança sociológica. Suas personagens, não sendo símbolos, muito menos arquétipos, têm a força criativa e transformadora de suas contradições. Por isso vivem e assumem nítido contato na imaginação e/ou na memória afetiva dos que passaram a conhecê-las de leitura, mas também de convívio que se estende para além das páginas de um livro, para ser edificante, exemplar”, Ênio Silveira, um dos maiores nomes da história do mercado editorial brasileiro, proprietário da editora Civilização Brasileira.
“Tereza Albues é uma escritora fenomenal. E como todo gênio, ela falava de coisas que são traumas e traumas tristes tornadas pesadelos. Por isso penso nela todos os dias. A vejo na minha frente como uma visão do futuro, uma vidente de pequenas e grandes causas, ora segurando a minha mão, ora segurando exemplares de sua literatura como se guiada por Shakespeare. Sim, Tereza e o berro derradeiro, não a do quadro de Munch, mas algo impresso em King Lear. Na verdade, ela foi a “anti-Shakespeare” – ou melhor dizendo – talvez ela tenha sido o Caliban, em A Tempestade”, Gerald Thomas, diretor de teatro e ópera e dramaturgo de renome internacional.